O espanhol Joan Albella decidiu, aos 34 anos, sair da sua ‘área de conforto’ e rumar para Portugal. Após o bom trabalho feito com os mais jovens do Askartza, outros jovens, estes do Fluvial Portuense, esperam pela mesma receita, até porque “construir uma base sólida é a prioridade”, afirma em entrevista ao Chlorus, rejeitando qualquer pressão para revalidar o título nacional da 1.ª Divisão.
Quem é Joan Albella?
Joan Albella é um treinador que se sente muito afortunado por poder trabalhar naquilo que é a sua verdadeira paixão: o polo aquático.
Como surgiu o convite para ser treinador do Fluvial Portuense e que razões o levaram a aceitar?
Já tinha tido a possibilidade de vir na época passada, mas notava que o meu trabalho no meu antigo clube [Askartza] ainda não estava concluído. Faltava a ‘cereja no topo do bolo’ que não era mais do que participar no Campeonato Juvenil de Espanha, competição na qual há anos que o clube não conseguia participar e eu iria fazê-lo com aquela que acredito ter sido a melhor geração de jogadores na minha antiga equipa. Um grupo que treinei desde os cadetes e, hoje em dia, dão cartas na primeira divisão nacional e jogam pela seleção Euskal Herria. Creio que fiz bem em ficar lá mais essa época, conquistámos o quinto lugar. Um grande feito para um clube humilde. Uma vez realizado e seis anos depois, o projeto do Fluvial chamou-me a atenção por vários motivos: as instalações são inigualáveis, a vontade de criar uma boa base de formação… Destacar também que a Direção criou condições e demonstrou grande interesse. Era o momento.
Chegar ao Fluvial Portuense no ano em que o clube se sagrou, pela primeira vez campeão nacional, é uma grande responsabilidade…
Sinceramente não o vejo dessa forma e em momento algum a Direção do clube me pressionou para que o título seja revalidado. A importância e viabilidade do clube passam por ter uma base sólida, com muitos jogadores/as com um bom nível de polo aquático. Construir essa base é a minha prioridade.
O Fluvial é também o clube mais antigo da cidade do Porto, o terceiro do País. Que influência tem para si este peso histórico?
Estou há umas semanas no clube e na cidade e a magnitude do Fluvial é evidente. É um clube com história, muitas secções e que respira desporto. Encanta-me.
Neste primeiro mês como treinador do clube portuense, que primeiras impressões tirou? Como se sentiu no seu primeiro jogo como treinador do Fluvial, no torneio em Bilbao?
Sinto que há muito trabalho a fazer. Vejo muitas coisas que podemos melhorar, com pouco esforço e outras mais complexas, mas que não tenho dúvidas que com trabalho irão melhorar. Em Bilbao, os rapazes jogaram bem na minha estreia, foi um bom jogo. A competição, em geral, foi típica de pré-época. Ainda pouca preparação física, primeiro teste e poucas conclusões a tirar.
O Fluvial Portuense ficou integrado num grupo difícil da Liga dos Campeões, mas tem a seu favor o fator casa. Que expetativas tem relativamente a esta competição?
Todos sabemos que vamos jogar contra os melhores da Europa. Jogadores que são profissionais, que vivem de e para jogar polo aquático, e Portugal não é um país com essa tradição. Creio que devemos utilizar a participação na ‘Champions’ para mostrar a todos os nossos jogadores e jogadoras o caminho que nos falta percorrer para nos aproximarmos do nível dos melhores. As nossas hipóteses são quase nulas e creio que devemos ter consciência disso e acompanhar e apoiar a equipa nesses jogos. Posso garantir que daremos 110 por cento em cada jogo. Devemos tentar ter a piscina cheia de apoiantes e crianças que desfrutem dos craques que vamos ter, a sorte de podê-los ver ao vivo.
O Paredes tem assegurado vários reforços com o objetivo de recuperar o título nacional. O que espera do campeonato português?
Sei mais ou menos como funciona o polo aquático aqui. Sei que o Paredes é uma grande equipa, que recebe bastante apoio, sendo por isso normal que ano após ano se assumam como candidatos número um para a conquista do título. Sei que este ano se reforçaram com excelentes jogadores, todos de primeiro nível e de seleção. A nós apenas nos resta trabalhar, não penso renunciar a nada até porque sempre tive uma mentalidade ganhadora. Estou consciente que cheguei a um clube novo, uma equipa nova, onde quero implementar bases e um estilo de jogo. Espero que essa adaptação seja a mais rápida e positiva possíveis.
O primeiro confronto com o Paredes é na Supertaça Carlos Meinêdo. Quem é o favorito?
Poderemos já ter mais ritmo de competição do que eles nessa altura, embora acredite que o plantel deles seja ligeiramente melhor do que o nosso. Veremos como corre. É difícil ditar um favorito.
Que diferenças tem encontrado da organização do polo aquático português relativamente ao espanhol?
Tenho a sensação que o pensamento aqui é muito virado para os resultados, descurando a importância que se deve dar à formação de novos jogadores. Não sei se é uma diferença real ou apenas uma sensação. Ainda estou aqui há pouco tempo.
Já falou sobre o problema da formação em Portugal. Que sugestões pode dar para aumentar o número de atletas jovens no nosso País?
Temos a sorte de poder jogar e praticar o melhor desporto do mundo, devemos estar orgulhosos disso. Se formos capazes de contagiar e incutir nos mais novos esse gosto pela modalidade tudo será mais fácil. Desde que cheguei ao Fluvial que sempre foi claro para mim que esse seria o meu maior desafio: a captação. Estamos a trabalhar bem e todos os dias temos novos meninos e meninas na nossa equipa de mini-polo. Aproveito para convidar todos os que quiserem a vir experimentar a modalidade no clube, sobretudo os meninos e meninas dos 5 aos 10 anos. Estou muito contente porque até agora todos os que vieram experimentar voltaram. O futuro é deles e delas e a continuidade da nossa modalidade em Portugal deveria preocupar-nos a todos. Temos instalações e treinadores, só falta depositar a máxima atenção e dedicação para conseguir novos craques.
Tem tido dificuldades com a Língua Portuguesa?
Nenhuma, não tem sido nada complicado entender e fazer-me entender com os miúdos.
Está a gostar da gastronomia e vinho portugueses?
Gosto. Graças aos bons anfitriões que tenho, vou descobrindo as coisas típicas de cá.