Rever os fantasmas do passado

 
  

Final dos anos 90 em Portugal. O polo aquático masculino foi “chutado para canto” no que às seleções nacionais dizia respeito. A Federação decidiu porque sim, e, durante vários anos, não mais inscreveu a seleção nacional masculina de seniores nas fases de apuramento para o campeonato da Europa.

Na altura, apesar de já suficientemente crescido, também tive os meus sonhos que foram completamente cortados nesses anos intermináveis. Não terei sido o único. Eu treinava todos os dias (sábados e domingos incluídos) e queria tentar fazer mais. Tinha a ideia de tentar ganhar a alguns países (na altura era apenas assim). Tínhamos perdido por um golo com a Áustria. Tinha-se ganho à Irlanda e empatado com a Suíça. Todos queríamos mais ou pelo menos tentar. Na minha ingenuidade pensei sempre que as federações deveriam desenvolver todos os seus filiados/modalidades. Enganei-me claramente e positivamente não nos deixaram (ao polo masculino). Riscaram-nos do mapa e ponto final. Ninguém disse nada. Ninguém nos defendeu. Ninguém pôs em causa a política federativa, associativas e ou outras, etc… No meio da maior falácia que já presenciei na minha carreira desportiva, a federação inscreveria, sucessivamente, no mesmo período, a seleção nacional feminina. Também ninguém explicou a diferença nos géneros, a fundamentação, etc… porque é que umas participavam e os outros… não! (Faça-se um parêntesis porque não se pretende a clivagem entre homens e mulheres, de todo).

A situação durou vários anos. O recomeço da seleção masculina acontece já no novo século, em Ermesinde, em 2001, numa ação inteligente do selecionador Lajos Lorincz que “embrulhou” com um bom plano (sem custos) a própria direção federativa da época, com os jornais da altura a comentarem o assunto como “o regresso dos esquecidos”.

Não me parece ser preciso trazer à colação passados cerca de 25 anos, que as federações deverão desenvolver com equidade as suas políticas desportivas. No caso dos desportos coletivos, deverão, no mínimo, zelar pela inscrição das suas seleções mais representativas (que serão as de seniores – é assim no voleibol, no basquetebol, no andebol, no hóquei).

No caso atual, o feminino inscreve-se, mas o polo masculino não vai estar na próxima fase de apuramento do Campeonato da Europa, o que é absolutamente frustrante!

Portugal, em masculinos, está neste momento entre os 20 melhores da Europa, mas até podia não estar. Não é por rankings. Será, no mínimo, por respeito pelo trabalho desenvolvido anos e anos, também pela própria federação (apesar de várias incongruências), pela dinâmica própria de um desporto coletivo onde se deverá incluir o polo aquático (masculino e feminino), pela necessária representatividade e motivação que pertencer à nossa seleção encerra na mente de todas e todos os atletas.

Que posição fica o selecionador nacional masculino? Que pensam os diretores-técnicos? Que pensa disto o vice-federativo para o polo aquático? As associações regionais, nomeadamente a do Norte com eventuais mais jogadores envolvidos? Que vão fazer os dirigentes dos clubes? Que vai fazer o clube campeão após ter investido na “Champions”? Assobiamos todos para o lado?

Já imaginaram o basquetebol não se inscrever num dos sexos? e o andebol’ e o voleibol? O polo aquático deveria ser tratado de forma igual. Só isso. Acho que em 2021 não seria pedir demasiado. Já agora, alguém falou com os atletas?

O facebook, os whatsapp, os telemóveis, as mensagens avolumam-se, mas não vão resolver! É uma grande desilusão! 

P.S. Para os jogadores masculinos de polo aquático selecionáveis deixo apenas a minha mensagem. Não desistam. Não podem! O polo aquático continuará a ser um jogo fascinante, onde se fazem amigos para vida e se faz desporto, mesmo que… de difícil compreensibilidade.

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