Fui convidado recentemente para ser preletor numa formação sobre Natação Pura. Consultei alguns colegas acerca do tema e foi opinião comum de que o ensino da natação é umas das carências formativas mais prementes.
Embora não seja o meu prato preferido lancei-me ao trabalho e aproveitei para abordar um modelo de ensino multidisciplinar, que há muito defendo, integrando as competências da Natação Pura, Sincronizada e Polo Aquático.
Para minha grande surpresa aquilo que deveria ser um dia de Formação, passou pelo anormal número de inscritos para 3 Domingos a falar de uma das minhas paixões.
Gostava de dizer que o mérito é do preletor, mas estaria a faltar à verdade. Se há razão que leva a que as Ações de Formação tenham uma grande quantidade de inscritos é a necessidade de assegurar Unidades de Crédito de Formação para a Cédula de Treinador de Desporto. Dos cerca de 90 formandos envolvidos, uma grande maioria apontou essa como a razão de participar na Formação, sendo a última edição da mesma, curiosamente a que teve menos inscritos, a exceção ao que afirmo.
Nessa, a maioria dos formandos estavam pela publicidade que os presentes nas anteriores edições tinham feito e vinham intencionalmente em busca de debater o tema proposto. Outra coisa que ficou bem patente é que, apesar da razão inicial ser de cariz eminentemente burocrático, e a Formação não ser entendida como um fim em si, é que para a generalidade dos presentes a possibilidade de ouvir, debater e partilhar práticas diversas acerca das nossas modalidades, lhes proporciona um imenso gozo que fica bem manifesto na forma empenhada como se envolvem nas atividades propostas. Ou seja, se a formação se impõe por obrigação, a participação é feita com um prazer e uma paixão que é muito comum entre o universo de professores que conheço.
Também fica bem demonstrada a carência de técnicos das disciplinas de Natação Sincronizada e Pólo Aquático. Dos presentes apenas dois eram também Treinadores de Polo Aquático, ainda que não no ativo e, apesar de haver professores a dinamizar grupos de Natação Sincronizada, nenhum era Treinador da modalidade!
Essa realidade ficou também bem presente no conjunto de Formações que a FPN organizou no âmbito do Curso de Treinadores de Polo Aquático de Nível II, contando com um excelente lote de Preletores em que, e à exceção das ações organizadas no Porto a que a Selecção Nacional Sénior Masculina assistiu, o número de formandos ficou sempre aquém daquele que a qualidade do preletor justificava.
As razões para isto são variadas mas entroncam frequentemente no caráter pouco profissional, não no empenho mas na vinculação laboral, dos Treinadores desta disciplina.
Em 1977, em grupo de Treinadores de Natação, cientes da imensidão de coisas que haveria a conhecer para além dos seus horizontes, lançou em Coimbra umas Jornadas Técnicas que estão na génese do atual Congresso da APTN, que se afirmou durante muitos anos como o local de excelência para o debate de novas ideias e conceitos acerca do Treino da Natação Pura. Infelizmente nunca se afirmou, apesar de algumas tentativas, como o espaço de discussão acerca do Treino do Polo Aquático, mas o caminho para o sucesso nesta disciplina é impossível sem passar por um aumento significativo da qualificação de todos os agentes e sem se criarem espaços de debate e partilha de conhecimentos.