Quando as docas do Tejo foram as piscinas de Lisboa (Parte II)

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Nos anos primários da natação, nadava-se por desporto e recreio, nadava-se por desafio, as possibilidades próprias alheias da gloriosa época do nudismo azul.

Havia quem tivesse conhecimentos de processos treino, mas o grande treino era a resistência e esta conseguia-se nas águas do Tejo amigo, nas docas de Belém, St. Amaro, Alcântara e Jardim do Tabaco e ao longo das muralhas, desde a Junqueira até Xabregas. Recordo que o Jardim do Tabaco foi aquela que mais tempo esteve ao serviço do meio associativo dos bairros de Alfama, S.Vicente, Graça, Castelo e Mouraria, que tiveram início nos anos 30 e terminaram nos anos 60, por altura quando as águas do Tejo começaram a estar poluídas.

Naqueles tempos recordo que muitas vezes treinava-se rebocando embarcações pesadas (canoas), caso de Batista Pereira e seus companheiros de equipa do Alhandra Sporting Clube, em plenas águas do rio Tejo, junto ao Monção da Póvoa. Estes planeamentos de treino eram para participar nas grandes travessias do Tejo, como a mais clássica e a mais bonita das provas de fundo, como era a da Trafaria para Pedrouços. Tinha a valorizá-la o interesse popular e com esta terá surgido a Grande Travessia de Lisboa, que era a de Xabregas a Algés e a Pequena Travessia de Lisboa, Terreiro do Paço a Pedrouços. A primeira tinha uma distância aproximada a 16 km e a segunda aproximada a 9 mil metros!

E, claro, o público, no da Trafaria-Pedrouços, só conseguiam assistir às partidas e chegadas, sempre emocionantes. Espetáculo era o cenário. As canoas levavam os seus guias e treinadores, porque na altura o regulamento dizia que era obrigatório cada nadador ter o seu barco de apoio. A organização, por sua vez, convidava os donos das faluas do Tejo, que levavam o público que quisessem assistir à prova. Estas embarcações eram todas engalanadas com várias cores, torna-se um espetáculo pela beleza, por isso é que ficou como a mais clássica de todas as provas do Tejo.

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Depois de um grande interregno, por altura do Centenário do Comité Olímpico de Portugal, o Comandante Vicente Moura, então Presidente do COP, com o apoio da Secretaria do Estado do Desporto, tentou reaver esta prova que constituiu em êxito, nas nunca mais se realizou.

Que saudades desta e outras provas do Rio Tejo, no tempo em que os golfinhos subiam e desciam o rio e acompanhavam os nadadores. Eu sou testemunha viva desses momentos viva.

As fotos que publicamos foram tiradas em 1949, nas festas da natação do Adicense “Quando o Tejo era a Piscina de Alfama”.

Hoje ainda vive a nostalgia dos festivais do Jardim do Tabaco, hoje toda subterrânea onde se está a construir a nova Gare Marítima de Lisboa para receber os grandes transatlânticos dos Cruzeiros Internacionais.

Esta foi a última memória das docas do Tejo, sendo o Jardim do Tabaco onde o Adicense formou grandes campeões e organizou festivais de natação com milhares de espetadores nas décadas de 30 a 50. Até que o Governo de Salazar decidiu interditar a “Piscina de Alfama” com alegação de que as águas do Tejo estavam (Inquinadas) !!!!

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