Não há nenhum português eleito para os Comités Técnicos da Liga Europeia de Natação (LEN). A lista para 2016-2020, recentemente conhecida, deixou de ter representantes de Portugal, depois de no quadriénio anterior (2012-2016) constarem cinco nomes: Paulo Ramos (polo aquático), Luís Liberato Baptista (águas abertas), Ana Filipa Frazão (natação sincronizada), José Manuel Borges (Masters) e António Rui Barbosa (Comité Médico).
Esta razia surge na sequência da vitória folgada do italiano Paolo Barelli, reeleito para novo mandato como presidente da LEN com 77 votos contra 27 do holandês Erik Van Heijningen, candidato apoiado pela Federação Portuguesa de Natação (FPN) que participou, em 2015, na 1.ª Convenção Portuguesa de Natação – Partilha de Boas Práticas, que decorreu em Rio Maior.
Num ‘mail’ da FPN enviado para os membros dos órgãos sociais e delegados da Assembleia Geral a que o Chlorus teve acesso, o presidente António José Silva afirma que “a Direção esteve disponível para dialogar e ouvir as candidaturas existentes” e decidiu “apoiar um projeto alternativo ao vigente na LEN, por considerar que para a natação europeia, e consequentemente portuguesa, continha vantagens a médio e longo prazo, assim como o considerava mais consentâneo como modelo de desenvolvimento e afirmação da natação europeia no panorama mundial”.
Apesar da previsível derrota do holandês Erik Van Heijningen, o líder federativo refere que não iria recuar no seu apoio. “Não está nos nossos princípios abandonar projetos e pessoas em que acreditamos e que fizeram um caminho connosco. E também sabíamos que poderia ter a consequência que veio a acontecer: não integrarmos nenhum dos comités para que nos tínhamos proposto”, lê-se no mesmo ‘mail’.
Paulo Ramos, que esteve como delegado na final masculina do Europeu de Belgrado, Luís Liberato Baptista, presidente do Comité Organizador das etapas da Taça do Mundo de Setúbal, foram os nomes indicados pela FPN para a recondução dos seus lugares nos Comités Técnicos. Foram ainda propostos Gabriela Cierco para a natação sincronizada, Luís Monteiro para os Masters e Rui Escaleira para o Comité Médico. Os cinco acabariam por não ser eleitos.
“É o ‘bureau’ que decide, nomeando, tendo em conta as propostas de cada País para os comités. E, assim sendo, numa lógica de afastar quem estava num projeto alternativo, aquele foi decidindo anacronicamente a favor dos que tinham estado com eles. Na minha opinião, mal, já que não foi tido em conta a qualidade dos serviços prestados”, considera António José Silva, ainda na nota enviada para os membros dos órgãos sociais e delegados da Assembleia Geral.
Para o presidente da FPN, as consequências para a natação portuguesa “não serão fundamentais porque Portugal tem de se preocupar primariamente com o seu desenvolvimento desportivo”. “Os cargos internacionais neste âmbito são importantes, mas não determinantes, para promover o real estado de desenvolvimento da natação em Portugal”, acrescenta.
O único português que se mantém nos quadros da LEN é Paulo Frischknecht, ex-líder federativo entre 2005 e 2013, que ocupa o lugar de diretor executivo.
António José Silva, presidente da FPN, foi indicado para o ‘Len Bureau’, mas viria também a ficar fora dos eleitos ao somar apenas 17 votos.
Os esclarecimentos do presidente da FPN surgem após uma carta aberta enviada por Carlos Freitas, delegado à Assembleia Geral da FPN, a que o Chlorus teve também acesso.
Carta aberta na íntegra:
“A motivação desta carta aberta prende-se com a surpresa que tive quando pude constatar que, duma assentada, Portugal perdeu todos os lugares que tinha nas diferentes comissões da LEN, nada menos do que cinco lugares.
De modo a entender o que terá motivado tal hecatombe e assumindo a minha total inexperiência nesses meandros, gostaria de solicitar o esclarecimento de algumas questões, no âmbito das minhas competências enquanto delegado à Assembleia Geral da FPN:
– Tendo sido conquistados há quatro anos atrás, por iniciativa do seu antecessor e respetiva Direcção, cinco lugares (Luís Liberato Batista na comissão de Águas Abertas, José Manuel Borges na comissão de Masters, Paulo Ramos na comissão de Polo Aquático, Filipa Frazão na comissão de Natação Sincronizada e António Barbosa na comissão Médica), alguns deles dando continuidade a mandatos anteriores e sabendo-se o currículo de todos estes elementos e o regular reconhecimento e apreço que os responsáveis por cada uma dessas comissões e a própria LEN demonstravam pelo seu desempenho, o que motivou o seu afastamento?
– Propôs a FPN a sua continuidade nos respectivos cargos, renovando os seus mandatos?
– Se não foi o caso, quais os motivos que levaram ao seu afastamento? Não estavam a representar condignamente a nossa natação e o nosso País?
– Se assim foi, propôs a FPN nomes alternativos para a sua substituição? E, se foi o caso, quais foram os nomes propostos para cada um dos lugares?
Para além destas questões estranhei que o sr. presidente, contrariamente ao que fez aquando da sua candidatura ao Bureau da FINA, tenha mantido até ao final a sua candidatura ao Bureau da LEN, com o resultado que todos podemos verificar.
Procurei encontrar no site da FPN ou na sua página oficial do Facebook, alguma informação acerca deste assunto, nomeadamente no que respeita à apresentação de candidaturas e correspondentes candidatos, mas nada encontrei. Uma situação com tão forte impacto na nossa representatividade internacional não justificaria uma notícia e/ou comentário, de modo a que toda a comunidade consiga perceber o que se passou. Ou apenas são dadas as notícias consideradas boas pelo crivo da Direção?
Portugal foi o país mais penalizado nesta eleição ao perder (numa situação nunca anteriormente vista) a totalidade dos seus representantes.
Mesmo a Holanda, que apresentou uma candidatura à presidência e afrontou publicamente o presidente reeleito, manteve dois dos seus delegados.
Julgo que a comunidade natatória e a Assembleia Geral da FPN têm o direito de saber o que se terá passado de tão grave, que motivou esta penalizadora situação para a nossa natação. Caberá ao sr. presidente esclarecer o que esteve por trás da mesma, quais os motivos para que apenas Portugal tenha sido alvo de tamanho castigo e o que foi feito para que tal acontecesse (ou não).
Todos os sinais dados anteriormente pela LEN e pelos líderes de cada uma das comissões apontavam precisamente em sentido inverso, merecendo a contribuição dos nossos representantes (todos sem exceção) diversos elogios públicos e privados.
Como delegado, sabendo do reconhecimento internacional que sempre obtivemos no nosso contributo na organização de competições internacionais e da crescente influência que vínhamos a ter nos diferentes órgãos europeus e mundiais, fico muito preocupado com esta inversão.
Da mesma forma que fico preocupado quando vejo o nosso país a não participar, por dois anos consecutivos, no Multi Nations Júnior ou a participar com uma equipa incompleta no Multi Nations Youth, competições de que fomos fundadores e até apadrinhamos a integração do Brasil.
Ainda no recente congresso da APTN, o DTN da CBDA (Professor Ricardo Moura) vincou a importância que essa competição tem para a natação do país irmão.
Certo de que compreenderá esta minha carta aberta e esclarecerá todas as preocupações nela contidas, continuarei a defender aquilo para que fui mandatado enquanto delegado e a tentar promover um debate aberto na defesa duma melhor e mais transparente natação”.
Foto: LEN