Findos os Jogos Olímpicos, cujos resultados, de uma forma geral, e contrariamente a uma grande quantidade de leituras que foram povoando os mais diversos meios de comunicação, me deixaram agradavelmente surpreendido, parece-me fundamental fazer uma reflexão profunda sobre ambos os fenómenos, resultados e opiniões.
Sobre estas últimas, que considero legítimas, há muitas opiniões negativas acerca do desempenho dos nossos atletas, registo também, e de forma contrastante com o que era habitual nas anteriores edições dos Jogos, várias crónicas cuja leitura dos nossos resultados é extremamente positiva, quando circunstanciados com o investimento na preparação dos nossos atletas. Julgo fundamental estabelecer aqui uma distinção bem clara, que aprendi com a Filosofia Grega, a de opinião, que como já afirmei é livre e universalmente legítima, e a de razão, mais difícil de atingir por implicar trabalho de investigação, conhecimento e independência.
Vi algumas opiniões que não diria serem infundadas, diria mesmo serem mal intencionadas, porque associavam à crítica a alguns desempenhos a exigência de maior investimento nas modalidades a que estão vinculados.
E o grave nesta questão é que estes paineleiros, panfletistas e propagandistas afins, apesar de não serem Jornalistas, ainda assim falam ou escrevem em Órgãos de Comunicação Social e são, obviamente, formadores de opinião pública que, como bem sabemos em Portugal, é pouco instruída e altamente influenciável.
Escreve o José Manuel Borges na sua Tese de Mestrado (e que já data de 2010), em que faz a análise das condições do Alto Rendimento na Natação Pura Desportiva em Portugal, que nós não temos verdadeiramente um sistema de Alto Rendimento, temos sim um conjunto de Atletas que, apesar das muitas limitações nas condições da sua preparação, obtêm, ainda assim, resultados de excelência. Curiosamente, volvidos alguns anos o Comité Olímpico Português publica um estudo acerca do nosso Alto Rendimento em que chega à conclusão que os nossos resultados Desportivos de excelência são mais fruto de condições particulares do que um de sistema Desportivo virado para o Alto Rendimento. Ou seja, estes resultados, ainda que decorrentes de condições particulares e irrepetíveis, fruto de um País que tem um nível baixíssimo de prática desportiva jovem, que reduz as horas de Educação Física nas Escolas, e cuja nota não conta para a média escolar, e onde o orçamento anual das equipas principais de Futebol de 11 de qualquer um dos chamados “Clubes Grandes” chega para pagar todo o orçamento dos 4 anos de preparação olímpica, são a todos os títulos excecionais e devem encher de orgulho todos os envolvidos no processo. Queríamos mais medalhas? Naturalmente, mas quem compete connosco também faz o trabalho de casa, e muitas vezes com ajuda do explicador!
Mas onde queria chegar é a uma constatação qua ainda não vi por ninguém feita. Se calhar pelas circunstâncias que acima nomeei, e à excepção do Futebol onde são anualmente despejadas quantidades imensas de dinheiro, não me lembro de haver uma representação nacional de uma modalidade coletiva nos Jogos Olímpicos! E se tivermos essa ambição na nossa modalidade isso implica perceber que o caminho é muito longo, provavelmente para além da esperança de vida de muitos de nós, e implica uma mudança completa de paradigma. E quando o Secretario de Estado afirma que não haverá mais dinheiro disponível para a preparação do próximo Ciclo Olímpico, temos de nos capacitar que temos de fazer muito mais com os recursos existentes e que as alterações a introduzir, não decorrendo de um aumento de dotação orçamental, terão necessariamente de ser organizativas.
Necessitamos urgentemente de melhorar o trabalho de base nos nossos Clubes, o que passa necessariamente por melhorar a Formação, formal e informal, dos nossos Treinadores, o que está indissociavelmente ligado à questão da remuneração dos mesmos. Não é possível querer um grande investimento em formação quando este não é minimamente compensatório financeiramente. E estou já a entrar noutro assunto muito importante e delicado que é o financiamento dos Clubes, que terei de deixar para abordar noutra altura.
É fundamental vincular as Associações Territoriais na formação das nossas seleções e isso implica o lançamento de projectos de divulgação da modalidade e a criação de Centros de Treino Regionais, já tentado sem sucesso há dois anos pela FPN, proporcionando aos nossos melhores valores a possibilidade de Treinar regularmente em conjunto com os melhores treinadores disponíveis e permitindo também a formação dos demais Treinadores que queiram participar no processo.
É fundamental manter, e alargar a mais escalões, o programa da Equipa Nacional Sub-13, mantendo um acompanhamento regular dos nossos melhores valores e criando uma verdadeira escola de formação desportiva em Pólo Aquático em Portugal.
É fundamental manter a concentração regular das nossas Seleções Nacionais, como já acontece com a equipa Absoluta, mas alargando a mais escalões, promovendo o conhecimento dos atletas e introduzindo um modelo de jogo.
É fundamental aumentar os nossos contactos Internacionais, seja com participações em Torneios ou em Estágios de Treino e que, dadas as nossas limitações orçamentais, até podem ser organizados por nós.
Se não quebrarmos o atual paradigma comportamental, de fazer da atual forma porque nunca foi feito de outra maneira, uma coisa é certa, ficaremos sempre fora da discussão do sucesso ou insucesso da participação, porque simplesmente não participaremos.