
Olhando retrospetivamente para os últimos 15 anos no polo aquático aquilo que torna mais flagrante é a extensa lista de clubes que, por razões várias mas maioritariamente financeira, suspenderam a sua atividade, alguns de forma definitiva e outras apenas em alguns escalões, sendo a época 2016/17, infelizmente face a anos anteriores, um modesto exemplo.
Poderá parecer estranho face à atual realidade mas no sector feminino já existiu uma 2ª Divisão, e no masculino, ainda que num passado mais distante uma 3ª Divisão! Mais surpreendente é constatar que desta lista de clubes, entre muitos outros, fazem parte o clube com mais títulos seniores masculinos, o Sport Comércio e Salgueiros e que houve um outro clube, Portinado, que ficando em 2º lugar do Campeonato abdicou da sua participação na 1ª Divisão como forma de contenção de custos e ainda assim, volvidos dois anos e uma subida de divisão de que abdicou, acabou por terminar a atividade da equipa sénior.
Eu tinha-me comprometido a debruçar-me sobre o financiamento dos clubes quando abordei a necessidade de criar condições para os Treinadores poderem obter uma estabilidade laboral que lhes permitisse, de facto, um investimento na sua qualificação e carreira, mas, após refletir sobre a realidade dos clubes, e face às suas formas de organização, participação desportiva, encargos e financiamento chego à conclusão que a nossa realidade é demasiado heterogénea para ser tipificada. Para além de duas características, sofremos com a falta de reconhecimento e visibilidade que condiciona de forma determinante a sua escolha como modalidade desportiva de eleição para um número alargado de praticantes, e isso implica graves limitações à nossa capacidade de angariar receitas, seja através de quotizações ou de patrocínios. Ou seja, a questão do financiamento dos clubes parece-me estar ainda mais perto do limiar da sobrevivência da modalidade do que da profissionalização dos Técnicos…
Quando foi atribuída a Espanha a organização dos Jogos Olímpicos de Barcelona 92, nos quais o Comité Olímpico Espanhol (COE) estabeleceu como meta um conjunto de resultados de excelência em todas as disciplinas em que participasse, verificou-se a existência de um conjunto de modalidades que, sendo Olímpicas, padeciam em Espanha, das mesmas limitações que o pólo aquático em Portugal, ou seja, as limitações no financiamento condicionavam a preparação para a excelência desportiva. Houve então a iniciativa conjunta entre o COE e as várias Federações com representação Olímpica de criar a Associação dos Desportos Olímpicos (ADO) que congregando todas as Federações passou a ser responsável pela angariação de patrocínios. Estabeleceu-se uma parceria com a RTVE que se encarregava de proporcionar às marcas a visibilidade mediática que o apoio ao desporto deve merecer. Desde então as diversas Federações entregam à ADO o seu projeto de preparação olímpica e, mediante a sua aprovação, recebem desta as verbas necessárias à sua implementação. Em 92, a Catalunha e o mundo assistiram ao surgimento de uma potência desportiva mundial que se mantém até aos nossos dias. Um dos casos mais sintomáticos do sucesso desta medida foi a medalha de ouro no hóquei em campo feminino, modalidade em que em Espanha havia apenas 400 atletas federadas!
Para as nossas dificuldades também contribuíram de forma significativa o acréscimo nos custos de participação desportiva seja através das extintas taxas de inscrição que, passando a taxa por partida realizada, aumentaram de forma significativa os encargos dos clubes, seja em custos de deslocação de que a extinção de clubes, particularmente no Sul de Portugal, é simultaneamente causa e efeito de um acréscimo desmesurado de encargos. Cabe aqui felicitar a única equipa que atualmente resiste com a participação desportiva sénior na zona Sul do País, o Coral de Reguengos de Monsaraz.
Simultaneamente tem havido uma série de, alterações aos atuais, e novos regulamentos cujo alcance e efeito desconheço na realidade dos clubes. Refiro-me concretamente à alteração regulamentar que implica que um clube que participe no Campeonato Sénior tenha de participar obrigatoriamente no escalão Sub-15 quando sabemos que muitos deles batalham ainda por conseguir espaços de treino condizentes com estes escalões etário. Parece-me que o articulado anterior obrigando a participar em dois escalões de formação sem obrigatoriedade de escalão, mais acertado e eventualmente mais condizente com as distintas realidades dos clubes. Da mesma forma, o Regulamento dos Direitos de Formação e Compensação Desportiva, que a mim pessoalmente me provoca muitas dúvidas por entender que a quotização dos alunos serve precisamente para pagar a sua formação, e cujo impacto nos clubes e no desenvolvimento da modalidade terá de ser atentamente avaliado, muito embora me pareça que deveria ter havido previamente, e com o conhecimento dos clubes que terão de se reger por ele, um estudo prospetivo da sua implementação.
Se a nossa história recente nos ensina alguma coisa é que a heterogeneidade de realidades e interesses tem apenas sido fonte de desaparecimento de Clubes e empobrecimento da modalidade, pelo que julgo que começa a haver espaço para se equacionar a implementação de uma Associação de Clubes de Polo Aquático que congregue as preocupações e problemas comuns aos clubes no desenvolvimento da modalidade, não numa perspetiva unanimista, mas antes de debate das diversas realidades, e que se assuma como interlocutor da FPN, tentando chegar a entendimentos para implementar as medidas possíveis quando as desejáveis o não forem.