O Estado da Na(ta)ção

 
  

Queria começar esta primeira crónica, fazendo um resumo de uma história que muitas vezes leio à minha filha para adormecer. Chama-se “Nadadorzinho”, da autoria de Leo Lionni, e como todas as suas histórias, convida-nos a pensar e aprender valiosas lições de vida. Ensina-nos o valor da diferença e o respeito que se deve a quem, por cultura ou aspeto físico, não partilha das características comuns. A superação dos próprios medos, a força de vontade para aproveitar tudo o que nos rodeia, apesar das adversidades que nos vão aparecendo pela frente, e a solidariedade com os nossos semelhantes também são tratados neste relato de grande qualidade estética, de frases curtas, cheio de figuras retóricas. E, como emblema da obra no seu conjunto, uma mensagem para os leitores: a união faz a força.

Analogia perfeita com o estado quer da nação, mas principalmente da natação. Poderia estar aqui a enumerar uma série de acontecimentos, factos, opções, decisões que têm sido tomadas na Natação Portuguesa e mais não passaria do que um ataque cerrado à FPN e à sua atual Direção. Da mesma forma, do alto do pedestal, e com toda a sua razão, o Presidente contesta e critica todas as vozes que se levantam perante as ações do seu mandato, argumentando de forma astuta e parcial o busílis das dúvidas e dificuldades com que se tem deparado. Não estranharei por isso, que no final, o chavão será: “Eu fiz tudo o que foi possível, criei uma máquina fabulosa, só não fiz mais e não deu resultado porque não me deixaram”. Começo a ficar com dúvidas, estarei eu envolvido numa atividade desportiva ou política.

Em termos desportivos temos vivido num clima de incerteza, de forte instabilidade regulamentar e de opções duvidosas, onde se torna difícil seguir um rumo estável por não sabermos qual será o destino final.

Surgem alterações constantes a regulamentos, a planos de alto rendimento, seleções nacionais não comunicadas, convocatórias nacionais sem critérios previamente conhecidos, entradas e saídas de elementos da direção, entradas e saídas de elementos das várias direções técnicas, locais de competição alterados a pouco tempo da sua realização, viagens a competições internacionais não realizadas e resultados das avaliações dos estágios de cadetes e infantis não divulgados. Enfim estes são apenas alguns dos exemplos de situações que têm movimentado opiniões divergentes quanto ao rumo da Natação Portuguesa.

Por outro lado, temos outra visão da Natação Portuguesa. Fruto de uma extraordinária visão estratégica e reveladora de esperteza, aparecemos como a modalidade com maior crescimento em Portugal. Subimos de forma notável no Ranking, principalmente devido à filiação dos alunos que as diferentes escolas de natação já tinham em prática há muitos anos e fundamentalmente por inclusão dos resultados alcançados pela Natação Adaptada na esfera da FPN. Nestas medidas só encontro uma finalidade ou então estarei a ver mal o seu propósito: AUMENTO DO FINANCIAMENTO PARA A FPN.

Aproximam-se os Jogos Olímpicos e apesar de ter sido regulamentado e de já ter sido reforçado verbalmente que apenas irão competir os Nadadores com mínimo A da FINA e com o mínimo B FPN (desde que sejam convidados), vetando por isso o acesso à competição aos restantes que apesar de terem o mínimo B da FINA possam vir a ser convidados. Apesar da garantia dada, sinto que a dúvida persiste, muito provavelmente porque já por diversas vezes foi dado um passo atrás, daí a perceção de que mais uma vez irá acontecer. E porquê? Será mais uma vez a questão FINANCIAMENTO da FPN a falar mais alto?

Qual o papel dos clubes que trabalham as suas classes de natação, que identificam os jovens talentos, que convencem a comunidade local para a prática da natação federada e competitiva, que fazem crescer, durante anos na sombra, jovens nadadores até ao escalão sénior? Quem é que afinal é a ALMA E CORAÇÃO da Natação Portuguesa? A FPN ou os CLUBES? Com este aumento de financiamento, os clubes verão as taxas de inscrição diminuídas? Os subsídios de deslocação a competições nacionais aumentados? Voltarão a existir tabelas de incentivos a nadadores e aos clubes em função dos resultados internacionais alcançados? Receber as verbas totais ou parciais que a FPN recebe todos os meses pelos nadadores que integram o Projeto de Esperanças Olímpicas? Ou mais simples, ter resposta a apoio técnico ou administrativo com a prontidão que as situações exigem?

Espero ver um dia uma natação voltada para o ATLETA das diferentes modalidades e menos voltada para o REI que continua nu.

A culpa morre sozinha? Categoricamente respondo, CLARO QUE NÃO!

É culpa é minha e de tantos outros, que tal como eu, não conseguimos demonstrar de forma categórica qual o caminho que devemos seguir. Seremos capazes de nos unirmos para conseguirmos ter mais força?

Este texto tem continuação por tema nas próximas semanas.

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