O Chato

 
  

Em Portugal não existem verdadeiramente, salvo raríssimas exceções, clubes de polo aquático. O que existe, genericamente, é a figura do Chato.

O Chato é aquele indivíduo que facilmente conseguimos identificar como sendo a razão da existência da modalidade naquele clube ou organização. Normalmente são pessoas profundamente otimistas e apaixonadas pela causa mas que, como o nome indica, são frequentemente inoportunos e inconvenientes para todos aqueles que estão de algum modo acomodados ao atual estado de coisas. De convicções inamovíveis e vontade férrea são os motores que mantêm a chama acesa e a modalidade viva em muitos locais, independentemente de se manterem ou não no mesmo clube. Ter um Chato na estrutura pode ser um sonho para quem quer realmente a evolução da modalidade, pelo seu empenho e vontade de realizar, pela capacidade de facilitar contactos e realizar ações, mas também pode ser um pesadelo mesmo para os entusiastas que querem evoluir mas que discordam da velocidade imposta pelo Chato. Então quando o Chato é o Treinador estão reunidas as condições para rapidamente surgirem conflitos seja porque a sua capacidade de identificar carências e solicitar soluções, nem sempre bem aceites, é elevada, seja porque o regime de treino que exige, vulgarmente em prejuízo de sua vida privada, só é possível de acompanhar por Chatos já graduados ou por projetos de Chatos em crescimento.

Para que esta figura perca preponderância é fundamental que os clubes vejam no polo aquático mais um produto desportivo que apresenta retorno financeiro (fundamental nos dias difíceis que correm) e, se possível, ainda que não fundamental, retorno desportivo. Para que isto aconteça é imprescindível que o produto seja procurado, ou seja que haja por parte da Federação e Associações Territoriais um trabalho de divulgação massiva da modalidade, quer como atividade alternativa às existentes no plano competitivo local, quer mesmo como modalidade complementar na formação desportiva dos nossos atletas, que muitas vezes sofrem inocentemente as consequências de as Escolas de Natação que frequentam não apresentarem nos seus conteúdos outros que não os que se referem exclusivamente à natação pura desportiva. Sem esta divulgação e promoção, particularmente nos Centros onde existindo piscinas não existe qualquer tipo de proposta competitiva ou em que esta é incipiente, muito dificilmente se conseguirá que o número de potenciais atletas cresça em número suficiente para que a viabilidade financeira da atividade esteja garantida.

Depois disto impõe-se também um eficiente serviço pós venda, que faça o acompanhamento regular dos clubes, que os possa aconselhar nas suas dificuldades diárias, seja propondo soluções para problemas que sejam comuns a outros centros, seja garantindo junto das entidades proprietárias das instalações a existência de espaços de treino destinados ao polo aquático em horários que o tornem de facto uma modalidade de formação desportiva e não apenas, como existe ainda em muitos locais (felizmente cada vez menos), apenas uma prática desportiva de fim de carreira de ex-nadadores e que, pelos seus horários tardios, impede que se possa oferecer às crianças em idade de iniciar o contacto com a modalidade.

É também fundamental que se formem técnicos com o perfil adequado para estas realidades, com competências na área da formação desportiva de base, e que conheçam a fundo o ensino das modalidades; que tenham uma visão a longo termo do Plano de Carreira do Atleta e que sejam suficientemente entusiastas para os saber fazer crescer.

Finalmente, é indispensável criar quadros competitivos que sejam motivantes pela sua regularidade e de proximidade que permitam a participação com custos controlados por parte dos clubes e simultaneamente o crescimento e fidelização dos praticantes.

Enquanto assim não for os Chatos continuarão a ser peças fundamentais nas nossas organizações, porque são aqueles que só deixarão morrer a modalidade quando uma de duas coisas acontecer, ou se lhes acaba o dinheiro, ou a paciência, o que é mais difícil.

Até lá estimem-nos bem porque sem eles estaremos todos muitos mais pobres.

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