Não me levem a mal mas, quando comecei a escrever, já o prazo de entrega estava expirado, não por qualquer tipo de síndrome nubente, mas antes porque as dúvidas que me assolam acerca dos horizontes da disciplina a que presentemente me dedico, são imensas. Em jeito Cartesiano atrevo-me a opinar que só tenho uma certeza: a de que este não é nem o nível nem o estado em que queremos estar.
Estamos em final de Ciclo Olímpico e é a altura certa para avaliar o caminho percorrido, de definir metas e traçar rumos. Parece-me flagrante que, se quisermos tornarmo-nos competitivos a nível internacional, o rumo até agora seguido não serve e que a repetição do atual modelo conduzirá, inevitavelmente, a resultados idênticos, ou piores do que os atuais.
Se quisermos mais, teremos todos, agentes particulares e Institucionais, necessariamente de fazer muito mais e melhor. De nada serve definir objetivos abstratos de participações nas Fases Finais Continentais ou Mundiais, em horizontes temporais mais ou menos longínquos, e que invariavelmente ninguém recorda, ou cobra, no momento da ultrapassagem dos prazos, se, simultaneamente não traçarmos o caminho para atingir esse objetivo. É certo que o estabelecimento de objetivos, e a conjugação destes com o orçamento disponível para os realizar, são as pedras fundadoras de qualquer projeto desportivo, mas não menos importante é identificar as nossas reais virtualidades e carências, perceber como podemos potenciar as primeiras e ultrapassar, ou mitigar, as segundas.
Não podemos conscientemente fazer o exercício de definir metas sem antes respondermos a questões fundadoras das quais me atrevo a enunciar algumas: como potenciar e viabilizar financeiramente os Clubes atuais, e incentivar a criação de novos clubes? De que treinadores precisamos e que tipo de formação, ou garantias laborais, lhes propomos? De que forma o atual número de Técnicos disponível condiciona, ou não, novos projetos? Que árbitros temos e quantos mais necessitamos para cumprir com os quadros Competitivos Regionais e Nacionais atuais e quantos serão necessários no horizonte temporal do processo? E que condições lhes proporcionamos para se manterem na modalidade e mesmo para treinarem regularmente, para além dos quadros competitivos oficiais? Quem são os nossos Atletas, qual o seu nível etário e distribuição geográfica e como poderemos melhorar a sua formação de base? Que condições proporcionamos aos nossos melhores atletas de modo a conciliarem a sua vida laboral com as exigências do treino de Alta Competição? E os que já abandonaram, que ligações mantêm com a modalidade e como atrair os que se afastaram? Quem são os nossos Dirigentes, que formação têm e qual lhes é proporcionada de modo a melhorarem a sua intervenção? Que reconhecimento lhes damos e o que os move? O que procuram os Pais numa modalidade com poucos recursos e sem grande visibilidade? Que contributos podemos procurar junto deles e que retorno podemos oferecer? O que fazer nas associações territoriais que não têm Polo Aquático, como incentivar através dos quadros competitivos Regionais, ainda que de outras disciplinas, o surgimento de projetos de Pólo Aquático? E nas Associações em que este existe, que condições podemos criar para o surgimento de Centros de Treino Regionais que permitam a treino regular em conjunto dos melhores valores regionais? E os quadros competitivos Nacionais são potenciadores do crescimento da modalidade? Têm o âmbito territorial e duração convenientes? E que trabalho tem de ser feito por parte da Federação na divulgação do Pólo Aquático? E nas nossas seleções, de que forma se conjuga o, louvável, projeto da Equipa Nacional Sub 13 com o ulterior trabalho das restantes representações nacionais? E que financiamento estará disponível para iniciar uma indispensável participação Internacional, regular das equipas Sub 17, Sub 19 e Absolutas? E para a realização de concentrações Nacionais Regulares? Estas são apenas algumas das questões que temos de responder para aquilatarmos do nosso estado atual avaliarmos se temos condições para atingir o que pretendemos, e creio que muitas pessoas ligadas ao nosso Pólo Aquático poderiam acrescentar muitas outras provavelmente muito mais pertinentes.
Há uma famosa conferência, julgo que em 2009, do Dejan Udovicic, atual treinador da equipa masculina dos Estados Unidos, acerca do Plano das Seleções da Sérvia, País onde trabalhou até 2008, em que afirma que o projeto iniciado em 2002 tem como objetivo a obtenção do título Olímpico em 2020, ou seja, estruturaram um plano de trabalho, num horizonte temporal de 18 (!) anos, tendo como meta os Jogos de 2020, e entretanto já ganharam Títulos Europeus e Mundiais para além de duas pratas e um bronze Olímpico, e ainda faltam 4 anos e duas Olimpíadas para o prazo definido!
Dir-me-ão que as condições de treino e mesmo a tradição da disciplina na Sérvia não são as nossas, é uma constatação óbvia mas não decorre dela uma impossibilidade de traçar metas ambiciosas, decorre sim a necessidade de uma observação cuidada da nossa realidade, na definição realista das nossas metas e da criação de um Plano a longo termo para as concretizar.
De uma coisa estou certo, caminho não será feito se não dermos o primeiro passo.