A estreia de Portugal num Europeu de natação sincronizada valeu o oitavo lugar coletivo em Londres. Em entrevista ao Chlorus, Mariana Marques, diretora técnica nacional, afirma que o nosso País começou “a escrever uma nova página na história da modalidade”, mas também é um momento “para mudar mentalidades”.
Chlorus (C): A barreira dos 70 pontos foi quebrada por duas vezes e Portugal foi oitavo em 21 seleções participantes no Campeonato da Europa de natação sincronizada. Que significam estes resultados para a modalidade?
Mariana Marques (MM): Para a natação sincronizada portuguesa este é um momento de viragem. Começamos a escrever uma nova página na história da modalidade em Portugal, quer com o alcance destes resultados quer com o início da presença mais regular em competições internacionais de relevo. Sendo esta a primeira participação portuguesa num Campeonato da Europa de Absolutos, o principal objetivo seria o alcance dos 70 pontos nos esquemas de Equipa Livre e Combinado que foi largamente atingido e superado! No que diz respeito à classificação final, o oitavo lugar é um lugar pela qual nunca esperávamos. Surpreendeu-nos a todas e, apesar das classificações terem sido quase sempre as últimas, elevou-nos a um nível internacional de destaque no final da competição. Esperamos que a participação no Europeu de Londres, para além de motivar e manter as nadadoras Juniores e Seniores em competição, mude mentalidades… mentalidades dos clubes, dos dirigentes, dos pais, dos árbitros, das treinadoras e, principalmente, das nadadoras. É urgente que todos se envolvam e apoiem esta evolução da natação sincronizada, porque quando não existem raízes de treino de alto rendimento, nem apoios por parte da comunidade envolvente, torna-se bem mais difícil conseguir elevar o nome de Portugal nesta modalidade.
C: Por outro lado, apenas por uma vez (dueto técnico) Portugal escapou à última posição. Como nos poderemos aproximar das melhores seleções europeias?
MM: O dueto técnico foi composto pela experiente Bárbara Costa e pela júnior Cheila Vieira. A Bárbara integrou na época passada o projeto do Dueto Olímpico, treinando em regime de internato na Murtosa e competindo a nível internacional em vários momentos durante a época, enquanto a jovem promessa Cheila Vieira fez a sua estreia em competições internacionais de grande dimensão neste Europeu. Para nos podermos aproximar das melhores seleções europeias temos que aprender com elas. Temos que treinar o mesmo número de horas, ter o mesmo sistema de ensino e apoio escolar que elas têm, ter um nível competitivo nacional bastante elevado, ter treinadoras formadas e interessadas e, acima de tudo, ambição… muita ambição.
C: É possível afirmar que houve evolução do Mundial de Kazan para o Europeu de Londres?
MM: Não podemos comparar os resultados individuais entre as duas competições, porque as condições de preparação não foram as mesmas. Passamos de uma época em que as nadadoras que competiram em Kazan treinavam em regime de internato no Centro de Treino da Murtosa para outra em que o trabalho de preparação foi levado a cabo pelos clubes, apenas com cinco concentrações nacionais da Seleção Absoluta durante a época (um total de 17 dias). Ainda assim, se analisarmos apenas as pontuações obtidas nos duetos, podemos afirmar que o nível técnico e competitivo mantém-se dentro do mesmo patamar de avaliação, o que é bastante positivo tendo em conta que as condições de preparação foram completamente diferentes. Em termos coletivos, verificou-se uma clara evolução do grupo que competiu nos esquemas de equipa e combinado que foi crescendo tecnicamente ao longo dos cinco estágios de preparação da Seleção Absoluta. Penso que, para além da evolução das nadadoras ao longo de todo este processo, as treinadoras foram quem mais aprenderam e cresceram na modalidade a nível nacional.
C: Prestes a concluir-se o ciclo olímpico, em que se equacionou uma possível participação portuguesa nos Jogos do Rio de Janeiro, que perspetivas se abrem para o novo ciclo 2016-2020? É intenção de Portugal voltar a competir em provas internacionais como Mundiais e Europeus e poder sonhar numa participação nos Jogos de 2020?
MM: Para o novo ciclo 2016-2020 está tudo em aberto. As várias competições internacionais em que nos apresentámos recentemente merecem reflexão da nossa parte. Pretende-se continuar a competir em provas internacionais de relevo, mas com objetivos de avaliação técnica bem definidos. Não podemos começar a construir uma casa pelo teto e depois adicionar-lhe as paredes e os alicerces, caso contrário, esta, mais tarde ou mais cedo, vai ruir. Devemos antes procurar firmar os alicerces e solidificar a modalidade, as nadadoras, as seleções nacionais. Neste sentido, pretendemos construir o futuro da natação sincronizada com ponderação e reflexão, mas também com ambição. Continuaremos a desenvolver e a promover as Seleções Nacionais de Juvenis e de Absolutos e desafiaremos os clubes, as treinadoras e as nadadoras a conquistarem o seu espaço nas competições internacionais. Atingido o nível técnico e competitivo internacional desejado, poderemos sonhar com os Jogos Olímpicos. Se conseguiremos estar presentes no Pré-Olímpico (competição de apuramento para os JO) de 2020? Tudo dependerá da evolução, da avaliação e do cumprimento de objetivos competitivos específicos pré-definidos no início do ciclo olímpico.
Foto: FPN