José Couto: “Se [a natação] parece melhor a muita gente, é apenas marketing”

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O que é feito de ti?

Regressei a Portugal depois de mais de 13 anos no estrangeiro. Passei pelos Estados Unidos, Angola, Mozambique, Dubai, Qatar e Arabia Saudita. Entretanto nasceu a minha filha que tem agora 2 anos e meio e não mais consegui sentir-me feliz longe dela, daí o meu regresso. Estou neste momento a trabalhar na Procifisc como diretor técnico e comercial e hoje curiosamente fiz o meu primeiro treino de natação (500m).

Não sei explicar, mas tenho uma necessidade enorme de competir e voltar a sentir aquela adrenalina antes de uma competição. O mais provável agora que estou em Portugal é inscrever-me nos masters. Já tentei, mas não consigo fazer desporto por lazer. Desporto para mim é ganhar ou perder. Traçar objetivos e fazer tudo para alcançá-los. Portanto, é muito provável que daqui a alguns meses irão ver-me nos cais das piscinas.

Quais foram os principais momentos que viveste como nadador de alta competição?

Tenho dois momentos muito especiais. Europeus de piscina curta no Jamor em 1999, estava doente e não estava na minha melhor forma, mas com as bancadas a abarrotar e com os gritos do público, não poderia deixá-los mal, transcendi-me e consegui dar-lhes duas medalhas.

O meu outro momento provavelmente ninguém conhece, mas foi o mais especial de todos. Campeonatos da Europa em Sevilha, 1994 penso eu. Acho que tinha na altura 16 anos. 100 metros bruços. Para poder ir à final tive que fazer um swim off contra um espanhol da casa. Parecia irreal, 10.000 pessoas a assistirem apenas a dois nadadores. Para mim aquela competição era Espanha contra Portugal, onde os espanhóis estavam a jogar em casa. Estive sempre atrás durante a prova, mas no final senti o Afonso Henriques dentro de mim e fi-lo pelo nosso país. Acho que baixei na altura o meu recorde em mais de 1 segundo. Depois, na final, acabei por ficar em quinto, penso eu.

O que achas atualmente da natação portuguesa?

Penso que está tudo na mesma, não estou a dizer que está pior, apenas parece-me igual. Os recordes obviamente têm que ser melhores, devido ao progresso e tecnologia. As piscinas são melhores, os métodos de treino são melhores, os fatos de banho são melhores, os produtos ingeridos pelos atletas são melhores. Eu lembro-me que para recuperar do esforço comia marmelada que a minha mãe fazia em casa, o que eu duvido que hoje isso aconteça. Em geral penso que estamos na mesma. Se parece melhor a muita gente é apenas marketing.

Pensas um dia regressar à modalidade numa outra função?

Sim, porque não criar uma função de apoio motivacional aos jovens nadadores e um abre olhos para os pais dos atletas que são os grandes responsáveis por não sermos como os americanos, russos, alemães, ingleses… Não é fácil mudar a cabeça a um adulto burro, mas é possível.

Que conselho darias aos jovens nadadores que sonham competir ao mais alto nível?

Traçar metas e objetivos. Confiar no planeamento do treinador e não dar ouvidos a ninguém, especialmente aos nossos próprios pais e amigos. Se quiserem e desejarem muito esse objetivo, dou-vos uma garantia de 100 por cento que irão alcançar esse objetivo. Chama-se a isto, a lei de atração.

José Couto, de 39 anos, foi um dos melhores nadadores portugueses de sempre. Especialista em bruços, o atleta luso representou o nosso País nos Jogos Olímpicos de Atleta-1996, Sydney-2000 e Atenas-2004. Conquistou duas medalhas (uma prata e um bronze) nos Europeus de piscina curta em Lisboa-1999 e uma medalha de bronze nos Mundiais de piscina curta de Moscovo-2002. Alcançou ainda várias medalhas em Taças do Mundo, entre outras proezas.

Entrevista realizada a 25 de março de 2017

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