Hugo Ribeiro: “Foi uma despedida praticamente perfeita”

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Representou Leixões, Clube Fluvial Vilacondense, Gespaços, Club de Tenis Elche, foi atleta individual da ANNP e terminou ao serviço do Estrelas S. João de Brito. Em conversa com o Chlorus, Hugo Ribeiro faz um balanço de 19 anos de carreira repartidos entre natação pura e águas abertas.

O Campeonato Nacional de Clubes da 1.ª e 2.ª Divisão foi a sua última prova enquanto nadador, por que razão decidiu terminar a carreira?

Casei há pouco tempo, saí de casa dos meus pais e apareceram novos objetivos, apostar na minha vida pessoal e profissional passou a ser a minha prioridade. Cheguei a uma altura da carreira em que, após terminar o ciclo olímpico, os apoios a nível institucional e de patrocínios não eram suficientes para progredir e conseguir viver disto, digamos assim. Por uma questão de sobrevivência preciso de me dedicar à minha vida profissional e também pessoal, uma vez que casei e planeio constituir família.

O que se sente na hora da despedida?

Acho que é um misto de sensações. A minha despedida já estava programada há algum tempo e sabia que este ia ser o meu último campeonato nacional. A minha especialidade é águas abertas e já tinha encerrado a minha participação nessa vertente no campeonato nacional de Peniche. E logo com o título nacional foi a cereja no topo do bolo! O nacional de clubes é uma competição que gosto muito de nadar e o meu clube pediu-me para prolongar um bocadinho mais a época, até dezembro, para poder ajudar a equipa. Íamos lutar para não descer e conseguimos um honroso terceiro lugar. Teve sempre um sabor muito especial, ainda mais sendo no Estrelas S. João de Brito, um clube que tive muito orgulho em representar no último ano e meio, e claro, na presença dos meus pais, da minha irmã e da minha esposa, foi uma despedida praticamente perfeita.

Que balanço faz dos 19 anos de carreira?

Vou falar das águas abertas, que é a minha vertente. Saio com um sabor agridoce, a realidade é essa. Por um lado, tenho muito orgulho no que fiz, ao longo dos anos consegui conquistar diversos títulos, vários lugares de destaque, alguns até históricos para Portugal, com muita dedicação e sacrifício pessoal, não só meu mas também dos que me rodearam e isso deixa-me muito orgulhoso. No entanto, tenho a sensação de que podia ter feito mais, os apoios e patrocínios foram muito escassos, faltaram apoios institucionais e a federação podia ter apostado mais nesta vertente e na minha pessoa. Caso tivesse havido uma maior aposta, podia ter ido muito mais além.

No Facebook disse que foi quando participou numa prova de águas abertas que descobriu a sua paixão e vocação. O que é que o apaixona nas águas abertas?

É muito diferente da natação pura. A primeira vez que nadei foi por uma brincadeira, desde então senti que nenhuma prova de águas abertas é igual. Por ser num ambiente aberto, há uma grande quantidade de variáveis que influenciam o nosso desempenho, a variabilidade das provas e o facto de serem únicas é o que dá beleza às águas abertas, além de que nadamos em locais muito bonitos e diferentes. Há ainda uma vertente estratégica que não existe na natação pura, que tem de ser trabalhada e muitas vezes decide as provas, tal como no atletismo, uma vez que há contacto. A natação pura é mais fechada, o ambiente é controlado e as variáveis são mínimas, nas águas abertas acontece o oposto. A temperatura da água, o vento, as correntes, o tipo de água, tudo influencia o desempenho. Tem a sua beleza própria e isso apaixonou-me, ao mesmo tempo, senti que tinha jeito para aquilo, são provas de fundo e eu sempre fui fundista. Adequou-se uma coisa à outra, a partir daí comecei a vocacionar os meus treinos para a minha vertente e a participar no maior número de provas possível. Nesta zona da Europa, as provas são sazonais e, uma vez que todas acabam por ser diferentes, só conseguimos evoluir a nível técnico e tático a competir, nomeadamente contra nadadores tão ou mais fortes que nós. Foi isso que eu decidi, juntamente com a minha família e com os meus treinadores: tentar sempre fazer mais provas e evoluir o mais possível.

De que é que vai sentir mais saudades?

Vou sentir mais saudades da vertente de águas abertas, mas não vou parar de nadar completamente, vou parar apenas a parte da alta competição, de treinar 10 ou 11 vezes por semana. Em águas abertas quero continuar a fazer uma ou outra prova, mas não com a seriedade com que fazia. Aquilo que me vai deixar mais saudades é a parte da competição, poder fazer aquilo de que gosto e competir. Ao nível da natação pura não vou sentir tantas saudades, já há algum tempo que utilizava as provas como um treino competitivo para me poder projetar nas águas abertas. No entanto, os Nacionais de clubes são uma competição que me vai deixar saudades porque são provas únicas, onde a natação passa de um desporto individual para um desporto coletivo, é uma prova que tem muita mística, que eu sempre adorei nadar e da qual vou sentir falta.

Se tivesse que escolher o melhor momento da carreira em natação pura e o melhor momento em águas abertas, quais seriam?

Pergunta difícil… Na natação pura saliento a parte coletiva, nomeadamente os dois títulos da Primeira Divisão que conquistei pelo Fluvial Vilacondense. A nível individual posso salientar o estatuto de Alta Competição, alcançado em 2009 nos 5Km indoor, que foi muito importante para mim. Em águas abertas destaco três momentos: o título dos 10 km, conquistado em 2014, um objetivo que já perseguia há algum tempo e que me deu uma alegria muito grande depois de sete anos consecutivos no pódio; o segundo momento foi o quarto lugar numa taça do mundo FINA Grand Prix (nos 32 km), no Canadá, uma classificação histórica para Portugal, que me deixou muito contente; o terceiro grande momento foi já este ano, quando soube que tinha obtido o quinto lugar no ranking final do circuito europeu de águas abertas, fiz duas provas e consegui o acesso aos prémios monetários, algo que ainda ninguém tinha feito em Portugal.

Agora que encerrou o capítulo da natação, quais são os planos para o futuro? Vai continuar ligado à modalidade?

Espero que sim. Apesar de ter tirado um mestrado em Ciências Farmacêuticas, não estou a trabalhar na área, neste momento sou professor de natação, continuo ligado à modalidade através do ensino. Estou a terminar o curso de treinador de nível I e futuramente decidirei se opto por levar mais a sério a parte competitiva ou se me vou manter como professor. Mas espero manter-me ligado à modalidade, de uma maneira ou de outra.

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