Em vez de uma medalha marcaram-me 12 faltas injustificadas

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Em setembro de 1997, 35 anos depois do feito de Gibraltar, o jornal A Capital, para comemorar a efeméride, entrevistou-me para contar todas as peripécias da Travessia do Estreito e então aqui posso dar alguns detalhes.

À data, José Freitas detinha o recorde da travessia a nado do estreito Gibraltar. Contra correntes e gaivotas levou pouco mais de 3h para nadar no Estreito que separa Europa de África.

E mesmo não sendo o dia ideal para a Travessia, teve que arriscar pois tinha que se apresentar no emprego no dia seguinte.

Em 1961, um nadador havia tentado ligar as margens dos dois continentes, mas teve que parar “já com a costa a vista”, recorda com pesar “devido à dor do nadador”.

No entanto, esta experiência falhada viria a dar frutos no ano seguinte e tinha um conhecimento mais profundo do terreno.

Preparação da viagem:

Para fazer a travessia do Estreito são sempre precisas duas embarcações. Naquele tempo foi usado um barco a remos e uma vedeta da Marinha de onde iam saindo disparos para o ar com o objetivo de afastar as gaivotas e os golfinhos.

Os guias têm por função guiar o nadador entre as correntes, escolhendo o melhor percurso para chegar a bom porto. José de Freitas, apoiado pelo clube – os Belenenses -, encontrou de os aliciar. No mínimo recebiam 15 mil pesetas, mas podiam receber 25 se eu fizesse um tempo superior ao do Batista Pereira que era o mais rápido nadador de fundo do mundo. Caso conseguisse bater o recorde da travessia, os guias teriam direito a 50 mil pesetas o que em 1962 ainda era uma quantia considerável.

Mas antes disso, José de Freitas teve de esperar 8 dias antes de se fazer à água na espera do momento em que as correntes marítimas estivessem mais favoráveis.

No nono dia lançou-se ao mar contra a vontade dos guias. Não podia ficar mais tempo, pois tinha de regressar ao trabalho no porto de Lisboa.

Ordenado cortado

Após este feito histórico, regressou imediatamente a Portugal para regressar ao seu trabalho no porto de Lisboa. Mas não se pense que fui recebido com grandes honras. O desconto no salário e no abono de família foi a medalha que me deram quando cheguei. E ficaram registados no meu cadastro as 12 faltas injustificadas.

Até hoje a única medalha que recebi foi a de mérito desportivo da cidade de Almada.

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