Covid-19: Polo Aquático? Isso é… já sei, andebol dentro de água!

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Ao longo de anos, fui ouvindo sistematicamente a mesma treta: “O que praticas? Polo Aquático. Isso é… já sei, andebol dentro de água!

Quando de se diz uma mentira repetidamente, ela torna-se verdade e ainda hoje perdura esse mito.

É inegável a sua semelhança. A sua diferença encontramos no local onde se joga. Um em pavilhão, outro numa piscina. De resto, as características de jogo são iguais. Então repare-se: cada equipa é composta por 7 jogadores de campo, um guarda-redes e seis outros jogadores, repartidos pelas posições de central, pivot, pontas e laterais; não há limite de substituições e as mesmas também não necessitam de qualquer autorização por parte do árbitro; há contacto físico predominante entre o central e o pivot; os intervenientes de jogo podem ser admoestados com cartões amarelos e vermelhos e haver expulsões temporárias; o objetivo é fazer com que a bola entre na baliza adversária, impedindo por sua vez que entre na própria baliza.

Já percebemos que o polo aquático e o andebol são modalidades praticamente iguais, menos duas entidades: a Direção Geral de Saúde e a Secretaria de Estado da Juventude e Desporto.

Se éramos o andebol dentro de água, agora deixámos de ser. Obrigada DGS, obrigada SEJD, conseguimos finalmente deixar de sermos comparados ao incomparável!

Conseguimos a nossa emancipação com a inclusão do polo aquático no grupo de alto risco, em que a realização de testes para diagnóstico de Covid-19 deve ser obrigatória 48 horas antes dos jogos.

E o andebol? Não, eles não precisam, foram colocados no pote do grupo médio risco, afinal essa modalidade já não é igual àquela que se joga dentro de água.

Ficámos esta semana surpreendidos e chocados com estas novas diretrizes que, se se mantiverem, podem levar ao fim do polo aquático. Nem Federação, nem associações territoriais e muito menos os clubes têm capacidade financeira para suportar tais custos.

As ditas modalidades amadoras, que pararam em março devido à pandemia do coronavírus, reclamaram com o facto do futebol profissional ter arrancado em junho.

Sentiam-se injustiçadas pelo poder do futebol, mas repare-se agora quais são as modalidades coletivas que poderão voltar a competir sem testes obrigatórios: basquetebol, andebol, hóquei em patins e voleibol.

Dá para perceber que dentro das modalidades, também há quem tenha mais peso – as ditas tradicionais – sobre as outras e isso, com esta decisão da DGS, é um dado factual.

Onde está cientificamente provado que numa piscina, onde haja um jogo de polo aquático, haja mais probabilidade de ser infetado com covid-19 em vez de um pavilhão, num jogo de andebol? Senhores novos donos disto tudo, não há nenhum estudo sobre o assunto, basta olhar para Itália onde fomos considerados modalidade de risco mínimo, até no patamar abaixo do andebol.

Se nos derem um jeitinho para entrarmos, pelo menos, no lote das modalidades de risco médio, onde está o irmão gémeo andebol, até podemos propor à Federação Internacional de Natação (FINA) para mudarem algumas regras de jogo, por exemplo passarmos a linha vermelha de dois metros para os três metros, assim cumpriremos a distância de segurança, já que as grandes penalidades não teremos que fazer alterações, uma vez que os penalties são marcados aos cinco metros (até temos uma folga de dois metros para o exigível).

Para finalizar, gostava de deixar bem claro que não tenho nada contra o andebol, bem pelo contrário, é uma modalidade que aprecio bastante e que acompanho regularmente, mas a história ninguém a pode mudar: o polo aquático nasceu oficialmente em 1870, o andebol em 1919; o polo aquático foi a primeira modalidade coletiva nos Jogos Olímpicos em 1900, o andebol estreou-se em 1936; o primeiro jogo de polo aquático em Portugal foi disputado em 1907, o de andebol foi em 1931.

É caso para dizer que… andebol? Já sei… isso é polo aquático fora de água!

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