A técnica em natação e o seu rendimento

 
  

Entende-se por técnica num desporto, o processo pelo qual se desenrola a prática de um movimento gestual determinado da maneira mais racional e económica (Navarro, 1999). Parece evidente por esta afirmação que existe um padrão técnico ideal que deveríamos procurar atingir, adaptando-o às características individuais dos nossos nadadores que vão sendo modificadas ao longo do processo de crescimento.

A técnica é um fator importante e sempre presente e a sua execução deve ser continuadamente readaptada às alterações de todo o tipo que acontecem, não só durante o crescimento, mas também perante as modificações que sofre o organismo humano durante a evolução desportiva. Assim, é muito importante conhecer a técnica ideal, ou seja, o padrão técnico de movimentos universalmente aceites pelo conhecimento científico, pelas bases teóricas e pela experiência prática, uma vez que não terá uma correlação exata em cada nadador (Navarro, 1999).

Em cada uma das etapas de desenvolvimento do sistema de preparação dos nadadores investigam-se múltiplas reservas para aumentar o nível da técnica desportiva (Platonov, 1994).

É preciso compreender que as razões de uma técnica pouco efetiva não se encontrarão apenas na análise do movimento a realizar, mas também, em fatores condicionais tão variados e diferentes como a altura, massa muscular, sistema cardiorespiratório, até em relação a processos emocionais do nadador.

Convém destacar que alguns nadadores distinguem-se por umas características excecionalmente estáveis da técnica em diferentes distâncias de competição. Outros nadadores que registam resultados de alto nível não se distinguem pela estabilidade da sua técnica, mas por manterem uma elevada velocidade de nado graças à variação da sua técnica (Platonov, 1994). A relação entre a frequência gestual, a distância de ciclo e a velocidade de nado, tem um caráter diferente para cada estilo de nado, para cada distância e para cada nadador.

O rendimento de um nadador em competição é determinado em função do tempo total percorrido desde o sinal de saída até finalizar a distância da prova, definida em cada caso pelo regulamento. O nadador que gaste menos tempo no final da sua prova será o que alcançará a vitória na competição, mas podemos obter outros dados importantes para o treinador, com a finalidade de poder analisar a prestação do seu nadador segundo diferentes parâmetros. Assim, podemos analisar as diferentes provas de natação não como um todo, mas sim como uma sucessão de várias fases intermédias. Desta forma, o tempo de prova será um somatório do rendimento alcançado em cada uma das fases que a compõe:

  • Tempo de Prova = Tempo de Partida + Tempo de Nado + Tempo de Viragem + Tempo de Chegada (Conjunto de tempos que compõem o tempo total de uma prova (adaptado de Hay, 1985).

Devido à importância dos resultados dos estudos realizados em competição para os treinadores e nadadores, amplia-se a realização dos mesmos durante as sessões de treino, análises das diferentes fases da competição para a sua melhoria e correcção de erros técnicos, para análise temporal da técnica de saída, para a análise quantitativa da técnica de nado, para avaliação dos componentes técnicos durante uma sessão de treino, entre outros (Ortiz, 2006).

A estruturação em diferentes fases de competição ajuda e facilita a análise quantitativa da mesma. Assim observam-se fases concretas que sejam necessárias melhorar. Os dados recolhidos durante a análise de uma competição são utilizados para comparar com posteriores competições, bem como analisar o nível do nadador. As modificações técnicas decorrentes deste tipo de análise podem ser realizadas de forma individual, tentando melhorar as fases que são inferiores aos resultados obtidos pelos rivais mais próximos, modificando a actuação do nosso nadador. Necessitamos saber como é que os nadadores obtêm os resultados alcançados em competição.

Devemos constantemente questionarmo-nos sobre qual será a melhor saída e viragem, que frequências gestuais realizam no início e no final da prova, bem como outras questões. A análise das competições poderão mostrar os pontos débeis e segundo os mesmos realizar correções nos planeamentos de treino (Ortiz, 2006).

Hajland (1996) defende este sistema e expõe como se devem utilizar os parâmetros de análise de competição: Tempo e velocidade de partida. Tempo e velocidade de viragem. Tempo e velocidade de chegada. Tempo e velocidade de nado. Tempos parciais. Frequências gestuais. Distâncias de ciclo.

Além desta análise quantitativa da competição, Hajland (1996) defende que a mesma deverá ser acompanhada de uma análise qualitativa da técnica de nado, análise em vídeo dos erros cometidos, correção dos erros e exercícios corretivos.

Arellano (2004) propõe um modelo semelhante ao apresentado, onde igualmente se integram dados quantitativos da análise da competição, bem como a medição de variáveis técnicas qualitativas.

Análise e propostas corretivas

Os métodos utilizados e os resultados do estudo não serão apresentados neste artigo de forma a não tornar o conteúdo demasiado extenso. Pretendemos apenas demonstrar que é possível a realização de uma avaliação mais completa sem necessidade de recorrer a especialistas em biomecânica, pois infelizmente quase todos nós, nos nossos clubes, fruto da falta de recursos financeiros, não temos a possibilidade de recorrer a estes serviços fundamentais.

Através da análise dos parâmetros qualitativos da técnica de mariposa podemos observar que o nosso nadador é lento a reagir ao sinal de partida e desde este momento até abandonar os pés do bloco de partida.

O tempo no bloco de partida compreende o tempo de reação e o tempo de movimento. Sanders (2002) afirma que um baixo tempo de permanência no bloco de partida está relacionado com uma maior velocidade de saída do mesmo para a fase aérea da partida.

Assim, o nosso nadador necessita flectir um pouco mais os joelhos, até um ângulo aproximadamente de 90º. Este é realmente um aspeto importante para refletir e melhorar. Para este efeito talvez fosse necessário realizar muito trabalho de reação a sinais sonoros. Incentivar o nadador mesmo em tarefas intervaladas a reagir o mais rapidamente possível ao sinal sonoro emitido pelo treinador. Também seria importante efectuar trabalho pliométrico dos membros inferior em squat jump para melhorar a velocidade e a potência do desequilíbrio imprescindível para a fase seguinte da partida (fase de voo).

Na entrada dos membros superiores na água, o nosso nadador efetua bastante turbulência, aumentando assim o arrasto, bem como efetua uma entrada ligeiramente exterior ao alinhamento dos ombros. A turbulência ainda é aumentada pelo facto das mãos não saírem com os polegares para baixo quando iniciam a recuperação dos membros superiores na braçada de mariposa. Estes aspectos qualitativos apontados vão sendo alterados negativamente ao longo dos parciais da prova, principalmente durante a segunda metade da prova, muito provavelmente em virtude da acumulação de fadiga e consequente perda de eficiência de nado. Segundo Marinho et Al. (2007), os valores de velocidade de nado correspondem a valores de velocidade da mão mais elevados, o que será de especial importância no final do trajeto motor subaquático.

Assim, podemos referir que este mesmo trajeto é um pouco travado pelo facto de não realizar a saída da mão com o polegar para baixo, não se verificando por isso uma rotação da palma da mão para dentro no final da ação ascendente, fator importante nesta fase propulsiva. Também através da análise dos parâmetros quantitativos, verificamos que a velocidade de nado, a frequência gestual e a distância de ciclo decresce de forma acentuada durante a segunda metade da prova muito provavelmente pelas mesmas condicionantes físicas e psicológicas, bem como por erros técnicos que aumentam o arrasto. Na realização de séries aeróbias e anaeróbias (ritmo de prova), iremos procurar corrigir o nosso nadador para que realize a entrada das mãos no alinhamento do ombro ou ligeiramente interior ao mesmo, bem como manter a frequência gestual e distância de ciclo ao longo da série rota à medida que a fadiga aumenta. Também para que o nadador possa controlar a sua frequência gestual, ao longo da série, devemos solicitar-lhe que para além das sensações do nadador, este realize a contagem do número de braçadas em cada percurso de 25 metros ou 50 metros, relacionando-o com a frequência gestual registada pelo treinador.

A pernada de mariposa parece carecer de melhoria, uma vez que a extensão dorsal durante a fase descendente é insuficiente, diminuindo desta forma a eficiência mecânica da mesma. Segundo Barbosa (2005), as velocidades que melhor predizem a flutuação da velocidade são a componente horizontal da velocidade da mão na AA, a componente vertical do segundo batimento descendente e a componente lateral da velocidade da mão durante a entrada. Este parâmetro negativo deve-se ao facto do nosso nadador possuir pouca flexibilidade do tornozelo, inviabilizando uma extensão dorsal ótima para a realização eficiente da fase descendente da pernada de mariposa. O aumento da velocidade durante a ALE relaciona-se essencialmente com a ação descendente do 1º batimento de pernas, tendo esta ação um efeito muito importante na minimização da perda de velocidade horizontal do nadador (Marinho et Al., 2007).

Parece-nos que de todas as capacidades condicionais e coordenativas necessárias para a realização da pernada de mariposa, a flexibilidade é aquela que poderá ser melhorada aumentando assim as possibilidades de tornar a pernada mais eficiente. Troup (1991) verificou que a contribuição dos membros inferiores para a propulsão na técnica de mariposa é significativamente elevada. Em primeiro lugar iremos procurar através de treino de desenvolvimento da flexibilidade, melhorar os índices de mobilidade do tornozelo para que sem dificuldade atinja valores mais elevados na extensão dorsal.

Na realização da viragem, o nosso nadador perde muito tempo com as mãos em contacto com a parede, talvez daí a diferença existente entre o nosso nadador e os valores de referência neste parâmetro. Segundo Mason (1998), os resultados obtidos no parâmetro viragem estão relacionados com o resultado da prova. Assim, existe uma correlação significativa entre o parâmetro viragem e o resultado desportiva da prova na distância de 200 metros mariposa. Assim talvez seja melhor trabalhar este aspecto em primeira instância de forma analítica e posteriormente em séries de ritmo de prova onde controlaremos estes parâmetros ao longo da série, bem como incentivando-o a manter os mesmos tempos de contacto ao longo das repetições, apesar de maior índice de fadiga.

Conclusão

Esperamos que este texto sirva de incentivo para a recolha de informação cada vez mais útil para podermos melhorar o nível dos resultados desportivos dos nossos nadadores. Obviamente que ainda poderíamos ir mais longe, se esta análise fosse realizada pelos biomecânicos, uma vez que o pormenor das informações seria efetivamente ainda mais rico e mais útil para a nossa atuação diária com os nossos nadadores.

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